Jornalismo e Poesia

 Nesse dia 20 de outubro, em que é comemorado o dia do poeta viemos falar um pouco sobre o jornalismo presente na produção de um dos mais renomados poetas brasileiros: Carlos Drummond Andrade. A notícia voltaria em diversos momentos do repertório literário de Drummond, um deles em 1968, quando a coletânea Boitempo revisitou o passado biográfico do poeta e jornalista revelando alguns momentos da convocação do texto de jornal nos seus versos. 


Em “Homem livre”, o autor revisita uma antiga notícia de jornal para construir sua poesia. No texto de Drummond, ao contrário do anúncio publicado em 03 de janeiro de 1869 n’O Jequitinhonha, o que predomina são os diversos adjetivos elogiosos que retratam a admiração do narrador pelo escravo perseguido, dessa forma, de maneira poética, demonstra a inversão de linguagem e protesto contra as adversidades urbanas e sociais noticiadas nos jornais. Leia com a gente:


HOMEM LIVRE


Atanásio nasceu com seis dedos em cada mão.

Cortaram-lhe os excedentes.

Cortassem mais dois, seria o mesmo

admirável oficial de sapateiro, exímio seleiro.

Lombilho que ele faz, quem mais faria?

Tem prática de animais, grande ferreiro.


Sendo tanta coisa, nasce escravo,

o que não é bom para Atanásio e para ninguém.

Então foge do Rio Doce.

Vai parar, homem livre, no Seminário de Diamantina,

onde é cozinheiro, ótimo sempre, esse Atanásio.


Meu parente Manuel Chassim não se conforma.

Bota anúncio no Jequitinhonha, explicadinho:

Duzentos mil-réis a quem prender crioulo Atanásio.

Mas quem vai prender homem de tantas qualidades?


QUADROS, M. Drummond, jornalista. Terra roxa e outras terras, Londrina, v. 28, dez 2014. Disponível em: <http://www.uel.br/pos/letras/terraroxa/g_pdf/vol28/TRvol28g.pdf>. Acesso em: 19 out. 2020.



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